Cláudia R. Sampaio: Poemas Escolhidos

CRÓNICA
| Rui Miguel Rocha

Acabo “Já não me deito em pose de morrer (poemas escolhidos)” da Cláudia R. Sampaio na Porto Editora. Não é meu hábito escrever sobre livros de poesia. Mas a Cláudia tem alguma coisa que eu já não via há muito tempo. Ela está do outro lado, do lado da poesia total, portanto dos deuses. Como a própria diz na entrevista a Valter Hugo Mãe no final do livro: “tentar ver no escuro tem sido o meu ofício.” E não há dúvida que consegue porque é “Inteira como um coice do universo” e tem a coragem necessária para lá se manter “Não me peçam para aderir ao vício da cobardia”. Vocês não sabem “mas todos os poetas amamentam as coisas/que ninguém quer” porque têm uma “faca para cortar o sossego.” Ela está num sítio que nos é inacessível, um sítio onde as palavras querem dizer outra coisa, mas através de outra coisa dizem exactamente aquilo que queríamos ouvir: “Agora tenho tudo porque já vi cair as falésias.” Às vezes parecemos tocados pelo Ruy Belo “Estamos aqui e eu quero dizer-te/que é de ti que vêm as casas” ou pelo Herberto “é de ti que vêm os ossos”, mas não será assim, porque na verdade somos tocados pela voz autêntica da poeta: “as miúdas poéticas têm cabelos desmoronados”. Não sei do teu cabelo, Cláudia, mas sei que existe verdade nestes versos: “Há no espaço entre dois corpos o/suficiente para que o céu exista.” Cada poema é uma casa cheia, não necessita dos outros para se suster, alguns são perigosos, com o potencial de uma faca, outros trazem memórias, fragmentos, pequenas coisas que por nós passaram e não demos por elas porque não estamos do lado da poesia “sempre que pisares o passado/limpa os pés”.
Obrigado Cláudia.
Fotografia: Vitorino Coragem (www.vcoragem.com)
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Cláudia R. Sampaio
Já Não Me Deito em Pose de Morrer (Poemas Escolhidos)
Porto Editora   14,40€
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