Cláudia Cruz Santos: A Vida Oculta das Coisas
1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro «A Vida Oculta das Coisas»?
R-A possibilidade de um futuro na escrita de ficção, espero eu. É o meu segundo romance e foi publicado cerca de um ano e meio depois do primeiro, Nenhuma Verdade se Escreve no Singular. Comecei a sentir a necessidade de escrever histórias inventadas, sobretudo pela manhã, quando ainda estou vagamente imersa nos sonhos, porque depois, ao longo do dia, a realidade vai-se impondo e preciso de regressar à minha outra vida. Quis que este romance acontecesse, não só porque achava que podia ser uma boa história, mas também por querer confirmar se conseguia, se o primeiro livro não tinha sido só sorte de principiante.
2-Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
R-Fiz uma conferência na Faculdade de Direito de Coimbra sobre as vítimas do tráfico de pessoas e a pesquisa que a antecedeu levou-me a descobrir um conjunto de episódios, tão terríveis como surpreendentes, sobre as pessoas que, no terceiro milénio, continuam a ser tratadas como coisas. A afirmação de que abolimos a escravatura é bastante questionável, se não no plano da lei, pelo menos no plano da vida. Na mesma época, a minha avó teve um acidente grave e precisei de a acompanhar na urgência de um hospital e depois no internamento. Essa experiência fez-me pensar que a idade também pode facilitar a nossa coisificação, não é só a pobreza, a exclusão social ou o género. E depois, estranhamente, deu-se uma mudança em mim, comecei a dar valor a objectos que me recordam momentos e que me contam histórias. Suponho que acabei por transportar esse conjunto de vivências e sentimentos para A Vida Oculta das Coisas.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Uma história policial. Começa com uma morte improvável, de uma mulher demasiado bem-sucedida para acabar a vida de uma forma tão ruidosa e pecaminosa. Estou muito entusiasmada com a ideia. Afinal, o que mais pode desejar uma voraz leitora de livros policiais do que ser ela, desta vez, a poder escolher o assassino? Mas é um estilo difícil, descubro-o agora, porque é preciso manter o suspense sem perder a coerência e sem resvalar para o absurdo.
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Cláudia Cruz Santos
A Vida Oculta das Coisas
Bertrand 16,60€