Cátia Vieira: “O passado parece-nos sempre ingénuo”
1-Este é o seu romance de estreia: como espera poder olhar para ele daqui a 20 anos?
R- A minha juventude dificulta a resposta a essa questão. Ainda não estou na casa dos 30, o que me impede de ter uma percepção clara do que significa encarar projectos que datam 20 anos. Mas, ao colocar-me essa pergunta, há três ideias que me ocorrem: carinho, novidade e ingenuidade. O romance «Lola» foi pensado, ao longo de vários anos, e estas personagens foram cuidadosamente pensadas e trabalhadas. Haverá sempre carinho, quando reflectir sobre elas e sobre esta narrativa. Novidade, porque a experiência feminina jovem, dos tempos actuais, tem sido escassamente explorada no panorama literário português até à data. E ingenuidade, porque, na minha opinião, o passado parece-nos sempre ingénuo.
2-Qual a ideia que esteve na origem deste livro «Lola»?
R- «Lola» surge, como acabo de referir, de uma vontade imensa de explorar uma das possíveis experiências femininas da minha geração. Através deste romance, procurei representar e dar voz aos millennials, abordando questões e problemáticas que estão especialmente presentes na nossa vida como a ansiedade, o feminismo e as novas dinâmicas provocadas pela era digital. Queria também que este romance tivesse um enquadramento político e, através dele, fazer uma crítica ao que vejo acontecer no nosso país e que tanto decepciona a minha geração. Apesar de só ter sido lançado em Maio, terminei de escrever o livro em Novembro. O que decorreu recentemente da operação Marquês só atesta a contemporaneidade de «Lola».
3-De que forma o facto de ser uma influencer condicionou a sua escrita?
R- Ser influencer – ou criadora de conteúdo que é o termo que prefiro – não condicionou a minha escrita. Há dois factores que têm grande impacto no meu trabalho: a figura da cidade e o meu percurso académico, que estão intimamente relacionados e que também estão representados em «Lola». Encaro a cidade como um campo complexo, no qual há energia, dinamismo, vida, mas também o oposto. São esses polos antagónicos que me movem e influenciam a minha escrita. Depois, como consta nos meus agradecimentos, a minha herança literária teve um grande impacto neste romance. Este era um dos meus tópicos de investigação. Não haveria «Lola» sem ter explorado de modo tão aprofundado as obras de Nuno Bragança e de Henry Miller. Não haveria «Lola» sem ter lido obras de outras jovens escritoras como Sally Rooney, Ottessa Moshfegh ou Elif Batuman.
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Cátia Vieira
Lola
Suma de Letras 16,60€