Cartas de Rilke
CRÓNICA
|Daniela Costa
Estava a ter uma noite muito mal dormida, oscilando entre o sono agitado e a vigília. Precisava de processar as emoções – e eram muitas – desse dia e já estava assoberbada pela ansiedade com a viagem do dia seguinte.
Conseguira, pelo menos, uma pequena vitória: estava sozinha num quarto, ainda que o chão tivesse terra das botas de montanha do hóspede anterior e, para ir à casa de banho, precisasse de contornar um homem que fazia ioga numa colchonete em frente aos lavabos femininos.
Desisti de tentar dormir e peguei no livro que tinha na cabeceira. Já lera as três primeiras cartas, mas foi a quarta, que li nessa noite, que fez com que ainda esteja a integrar a sabedoria condensada num livro tão pequeno.
“Apenas quem está pronto para tudo, quem nada exclui, nem o mais enigmático, viverá a relação com uma outra pessoa como algo de vivo e esgotará a sua própria existência.”
A minha grande e profunda solidão, é preciso que a abrace e a trabalhe. Só ela me pode conduzir ao amor, que não supre outra solidão, mas antes revela, saúda e protege o que no outro há de único e intransmissível.
Li as restantes no comboio, no dia seguinte, mas até hoje não acabei ainda de as ler.
“Aprende devagar a reconhecer as poucas coisas em que perdura o que de eterno se pode amar e a solidão de que se pode tomar parte em silêncio.”
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Rainer Maria Rilke
Cartas a um Jovem Poeta
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