Burnout: Um tema premente


P-Qual a ideia que esteve na origem deste vosso livro «Ligar o Sinal de Alerta – A Influência da Liderança no Burnout»?
R-Da nossa experiência no mundo da gestão de pessoas e ouvindo pessoas, percebemos que este era um tema premente e tão caro para tantos e, apesar do conhecimento de que a liderança e o burnout estão relacionados, verificámos que a literatura em Portugal para além de escassa era muito baseada em artigos e estava voltada para profissões nas áreas da saúde e cuidadores. Assim fazia todo o sentido esta investigação. O que nos fez avançar com o livro foi, sobretudo, reunir informação e trazer alguns inputs que pudessem levar a alterar o arquétipo, que está a ficar vigente, e que é emergente contrariar.

P-Com base na vossa investigação, de que forma o burnout está a influenciar e condicionar o desempenho dos profissionais e das organizações portugueses?
R-A entrada do burnout na nova classificação internacional de doenças da Organização Mundial de Saúde, está a vigorar desde 1 de janeiro deste ano, ou seja, ao falarmos de burnout, falamos de doença, doença esta altamente impactante e, logo, drasticamente condicionadora do desempenho (ou completa ausência dele) que, obrigatoriamente, exerce grande influência nas organizações portuguesas e, necessariamente, remete-nos para uma mudança de paradigma à qual temos mesmo de estar atentos.

P-Os impactos são semelhantes em grandes organizações e em micro/pequenas?
R-Num mundo em permanente dúvida e questionamento, a loucura da sobrevivência ou a busca escarpada da entrega e da superação, aliados a determinado estilo de comando, poderão ser, sim, cúmplices deste esgotamento profissional que, obviamente à escala, levarão a impactos semelhantes em PME ou grandes organizações.

P-E, num outro plano, os impactos são equivalentes nos diversos níveis hierárquicos das organizações?
R- Aquando dos primeiros estudos sobre o tema, a síndrome era reconhecida em cuidadores, sobretudo profissionais da saúde, verifica-se, hoje, que este conceito se ampliou definitivamente e reporta a várias atividades profissionais, sendo um fenómeno alheado de hierarquias ou funções. Da nossa investigação apurámos que os colaboradores com funções de maior responsabilidade nas organizações parecem ser os mais atingidos por processos e efeitos do esgotamento. Importa sublinhar que também os líderes são objeto de forte pressão e de necessidade de readaptações constantes, sobretudo nestes últimos tempos.

P-Nas organizações, quais são os sinais de alerta mais comuns sobre a presença do burnout dos seus trabalhadores (ou parte deles)?
R-Alguns dos sinais de alerta mais relevantes passam pela redução significativa da produtividade, aumento do absentismo e do presentismo e aumento do turnover. Medindo, em termos do absentismo estima-se que, em Portugal, um trabalhador falte, em média, 6.2 dias por ano e, quanto ao presentismo, o número de dias pode ascender aos 12.4 por ano por trabalhador. O movimento “A Grande Resignação” que se traduz na demissão em massa dos trabalhadores começou por se verificar nos EUA e rapidamente se estendeu pela Europa, sendo que Portugal não fica de fora.

P-E nas pessoas, nos trabalhadores?
R-As pessoas em risco de burnout ou já com a síndrome, apresentam uma atitude negativa e apática para com o trabalho, diminuição no desempenho, intensificação do erro e do conflito e propensão a desenvolver problemas de saúde a nível físico e psicológico. O profissional em burnout pode encontrar-se num estado de exaustão tão grave que, no limite, o mata, embora seja difícil este estabelecimento pela complexidade na relação causal entre trabalho e morte.

P-De que forma o estilo de liderança pode permitir uma melhor resposta das organizações ao problema?
R- Categóricos na prevenção de burnout são o acompanhamento e apoio, o reconhecimento, o envolvimento, aparticipação, entre outros, assim, a liderança que se concentre nas relações com os seus colaboradores, na escuta ativa, na tentativa de compreender e auxiliar nos seus problemas, com consideração pelas suas ideias e vínculo nas tomadas de decisão e reconhecimento das suas boas prestações, podem ter esse resultado precaucional no aparecimento do esgotamento profissional.

P-Começou a falar-se mais no burnout no contexto das limitações decorrentes do COVID: agora que a pandemia está em fase descendente, é previsível que o fenómeno regrida ou veio mesmo para ficar?
R-Se até há alguns anos a doença mental era tabu, nos últimos tempos a abertura começou a verificar-se e a pandemia trouxe-nos uma outra facilidade de visão, consideração e debate ao tema da saúde mental, portanto, verifica-se uma evolução no sentido de discutir e refletir sobre a matéria, não significando, de todo, que foi a Covid19 que nos arremessou para a síndrome, embora, sem dúvida, a aumentou. Por outro lado, a doença mental nas empresas era vista como um foco na “pessoa doente” e não no contexto envolvente “facilitador” ou “causador” dessa mesma doença, o que dificultava a abordagem real ao problema. Se o fenómeno veio para ficar? A resposta poderá ser encontrada na conjugação de esforços e vontades, das organizações, das lideranças, dos colaboradores, dos profissionais das áreas de RH e saúde, entre tantos outros.
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Carla Ribeiro/Pedro Ramos/Wander Carvalho
Ligar o Sinal de Alerta – A Influência da Liderança no Burnout
RH Editora  9€

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