Bruno Ferreira Costa: Quo Vadis Europa

1-Qual a ideia que esteve na origem deste seu livro «Quo Vadis Europa. A Encruzilhada Europeia»?
R- A obra nasce por um interesse específico em refletir sobre a construção do projeto europeu e decorre do foco da minha investigação académica na área da Ciência Política e das Relações Internacionais, bem como da cada vez maior influência da União Europeia sobre as políticas nacionais, num caminho elogiado pelos setores mais federalistas e contestado pelos setores mais intergovernamentalistas. Representa, de forma objetiva, uma reflexão pessoal sobre os grandes desafios que a União Europeia enfrenta nos dias de hoje e procura traçar alguns caminhos para a clarificação do projeto comunitário. Num momento em que se verifica um crescimento dos extremismos na Europa e se volta a duvidar sobre as conquistas alcançadas nos últimos 60 anos, senti a necessidade de dar o meu contributo para o debate em torno da Europa que pretendemos continuar a construir. A questão que dá título ao livro encaminha-nos, precisamente, para esse debate, num rasgar entre o romantismo em torno da fundação do projeto comunitário e a análise da realidade burocrática europeia.
 
2-A reflexão que fez sobre o futuro da Europa permitiu-lhe chegar a conclusões pessimistas ou optimistas?
R- A questão central continua por responder, ou seja, que modelo de União Europeia se pretende construir e quais os passos que têm de ser dados para alcançar esse desiderato. O período que vivemos acarreta um grau de incerteza considerável, pelo que existem sinais mais pessimistas, nomeadamente a paralisação das instituições europeias, o foco dado às negociações europeias em torno de lugares, as diferenças acentuadas ao nível do desenvolvimento e do crescimento ou a existência de um bloco cada vez maior em defesa de uma visão mais “utilitarista” da União, em detrimento de uma visão mais humanista. No entanto, não se pode deixar de reconhecer a Europa e, mais concretamente, a União Europeia como palco de conquistas assinaláveis na defesa dos direitos humanos e no respeito pelo exercício das liberdades individuais. O projeto comunitário está em constante construção, com avanços e recuos, próprios da estrutura das sociedades e resultado das opções políticas dos cidadãos. O medo não pode comandar a construção e a defesa da União Europeia.
 
3-Depois de um percurso longo e de um presente com sinais de incerteza, o que faz falta à União Europeia?
R- A União Europeia vive um período de incerteza, resultado da ausência de verdadeiras lideranças políticas. Nos últimos 20 anos que líderes políticos europeus conseguiram deixar a sua marca na construção de uma visão mais humanista e solidária? Que decisões foram tomadas e contribuíram para uma maior coesão social e territorial? Ao atual modelo da União Europeia falta, essencialmente, a solidariedade efetiva entre os povos, entre os Estados e o desenvolvimento de uma política que garanta uma maior democraticidade, através da participação dos cidadãos, bem como dos Estados com menor dimensão. O projeto só será verdadeiramente comum se for partilhado por todos os membros.
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Bruno Ferreira Costa
Quo Vadis Europa
Edições Sílabo  13,80€