Bons livros, boas leituras!

 
 
 
 
 
 
 
 
 
Luis Maffei é autor de cinco livros de poemas, sendo o mais
recente Signos de Camões (Companhia das Ilhas, 2013). É também contista,
ensaísta literário, coeditor da Oficina Raquel e professor de Literatura
Portuguesa da Universidade Federal Fluminense (Niterói/ RJ, Brasil).
 
OBSERVAÇÃO DO VERÃO SEGUIDO DE FOGO
de Gastão Cruz
(Assírio & Alvim)
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A editora brasileira Móbile reuniu num único volume dois
livros de Gastão Cruz, o primeiro de 2011 e o segundo de 2013. Gastão é um dos
mais importantes poetas portugueses pós-1960, e representa, hoje, uma voz
praticamente única no panorama da literatura de língua portuguesa. Conheço
poucos poetas que consigam, como Gastão, manter-se em altíssimo nível por mais
de 50 anos (já são mais de vinte títulos), passeando com maestria entre a
dicção clássica e a inovação formal. Gastão Cruz, nesses livros que, no Brasil,
são um só, prossegue em sua investigação acerca de temas fundamentais da poesia
desde sempre, como a morte e o tempo, insistindo no lírico como modo de
entendimento e enfrentamento da realidade humana.
VOCÊ ESTÁ AQUI
de João Luís Barreto Guimarães
(Quetzal)
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Você está aqui, mais recente livro de João Luís Barreto Guimarães, confirma o
nome do autor entre os poetas a não se contornar na literatura portuguesa
contemporânea. Nesses poemas, o jogo entre movimento e imobilidade, viagens e
centripetação se joga a partir do enfrentamento de dicotomias aparentemente
irresolvíveis – e talvez o ressalto movente desses pares mais privilegie o fato
de eles se moverem que creia numa solução, dialética ou de qualquer outra
natureza. Além de tudo, João Luís é um poeta de aguda consciência do verso, e
não raro obtém sentidos surpreendentes através do humor.
CONSTELAÇÕES-ENSAIOS COMPARATISTAS
de Pedro Eiras
(Afontamento)
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Pedro Eiras é um crítico inquieto, que não aceita submeter o pensamento sobre
literatura a limites que, por vezes, certas instâncias tentam impor. Essa
recolha de “ensaios comparatistas” poderia muito bem identificá-los como
“ensaios dialogantes”, ou deslocantes, posto que os objetos são postos para
conversar com mediação muito fina, combinando inteligência e certa dose de
discrição, posto que Sá-Carneiro e Freud ficam muito bem um com o outro, assim
como, por exemplo, Luiza Neto Jorge e Godard. O título não poderia ser mais
justo. “Essas linhas”, com as que montamos as constelações, “não têm existência
material”, diz o autor; “são um pequeno excesso sobreposto à realidade”. São,
sobretudo, construções que, além de comparar, ou mais que comparar, põem o
pensamento numa estimulante crise, em crítica.