Bom, refrescante e louco
CRÓNICA
|Rui Miguel Rocha
E agora para algo completamente diferente! Confesso que comprei o livro pelo título que tem todos os sentidos possíveis, todos aproveitados na narrativa. Depois li-o (sim, porque sou daqueles que não lê tudo o que traz para casa) por causa da Cláudia Lucas Chéu ter dito qualquer coisa de bom. E de facto é bom, refrescante e louco. A começar pelo prefácio que não sei se não terá sido escrito pelo próprio, onde se apresenta o homem como um ser tragicómico, entregue ao destino de não ser nada de especial. Começando pelo seu fascínio por “capas feias e discos de gasolineiras”’ passando pelas chamadas mensais com os amigos para “falar do assunto mais banal” e nada mais do que isso, até não se encontrar o mistério das flores.
É sinal de bem estar rir-se de si mesmo, descrever a própria morte e ressurreição do artista enquanto jovem, saber que é difícil escrever romances “se à minha volta as maiores tragédias são miúdas que se mostram relutantes em beijar-me, engarrafamentos de final de tarde e copos de vinho entornados para cima do computador”. E mesmo conseguindo a proeza de iniciar um romance, vamos ainda ter “o problema de descrever as coisas tal e qual aconteceram é que parece muitas vezes má literatura”, declaração que assino por baixo, como “vocês…a sorrir ao empregado e a assinar o vosso nome no ar.”
O mundo é demasiado rápido para nós, pobres coitados à deriva, “a quantidade de coisas a que temos de estar constantemente atentos, que temos de registar, guardar e comparar ao longo do tempo, deixa-me em pânico.”
“Cada um é o homem de si mesmo”, mas temos algumas coisas em comum: “João Pedro Vala, além de um artista em vários campos, era o detentor do recorde mundial de perdas de cartões de crédito débito e/ou crédito.”
Resta saber como cada um de nós pensa que comanda a sua vida: ao volante ou lá de cima? Grande Turismo é o que fazemos por aqui perdidos, neste lugar a que alguns chamam vida. Mas será?
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João Pedro Vala
Grande Turismo
Quetzal 15,50€