Berta Montalvão: “É estranho sentirmos que somos emigrantes no nosso próprio país”

1-Qual a ideia que esteve na origem deste seu novo livro «Carreiras Lusófonas: Experiências e Desafios da Migração»?
R-A ideia de escrever o Carreiras Lusófonas surgiu num momento muito particular da minha vida. Após treze anos a viver e a trabalhar em Angola e dois anos em Timor-Leste decidi que era tempo de regressar ao meu país de origem, Portugal. Durante o processo de readaptação ao país, percebi que estava a passar por alguns desafios de reintegração pessoal e profissional. É estranho sentirmos que somos emigrantes no nosso próprio país, mas esse sentimento bateu-me à porta. Quis perceber se esse sentimento era apenas meu ou se partilhado por outras pessoas que já tinham passado pelo mesmo processo. Ao falar com amigos e conhecidos percebi que as nossas histórias se cruzavam em alguns aspetos, de alguma forma e, foi a partir desses pontos em comum que decidi escrever o livro. Estávamos a poucos meses de terminar o ano de 2022.

2-As histórias retratadas no livro têm um fio condutor que explique a situação dos profissionais lusófonos que procuraram novos desafios fora dos seus países?
R-A ponte que une os dezasseis intervenientes do livro é a língua portuguesa. Os intervenientes do livro são cidadãos lusófonos, que migraram para um ou mais países da CPLP. As histórias são únicas, assim como as experiências e os desafios relatados. Mais do que a trajetória profissional, a obra retrata o lado mais emocional do movimento migratório, como a família, o conhecimento de uma nova cultura, as novas rotinas e o crescimento enquanto seres humanos.

3-Em Portugal, estaremos mesmo condenados a desperdiçar talentos que se sentirão mais atraídos por novos desafios no estrangeiro?
R-A questão da migração não afeta apenas Portugal, nem apenas pessoas mais qualificadas. Por vezes, o que leva um indivíduo a sair do conforto do seu país nem é tanto a questão financeira, mas a experiência de conhecer uma nova cultura, trabalhar com diferentes métodos de trabalho ou desenvolver competências. No caso concreto de Portugal, reconheço que a situação económica, a política fiscal e os baixos salários sejam motivos relevantes para os talentos procurarem desafios profissionais noutro país. Sou da opinião de que, enquanto o país não conseguir dar resposta a estas questões, os portugueses vão continuar a deixar o nosso país.
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Berta Montalvão
Carreiras Lusófonas: Experiências e Desafios da Migração
RH Editora  15€

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