Augusto Carlos | Mar Imenso

1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro «Mar Imenso»?
R- Desde que tomei consciência de que existo como individuo, tenho tentado compreender o que é a vida e qual o seu objectivo, o que é que o Homem e como se relaciona com a Natureza, como sentir Deus na prática, e o que é o Universo.
Os meus livros são uma humilde tentativa de deixar à humanidade as respostas a que vou chegando.
«Mar Imenso» é um romance que parte do particular para o geral. As duas personagens principais, – o Dr. Afonso Makaring, descendente do régulo de Gaza e representante de uma dinastia imperial que personifica o moçambicano enraizado no passado e Aboim Raposo, homem que marca a ligação portuguesa a África –, revisitam a história das suas vidas, que se confunde, em parte, com a História do próprio país.
Este procedimento, permite-lhes analisar a relação entre os povos moçambicano e português, descortinar a amizade que, após adversidades, aflorou e se mantém.
Mais tarde as referidas personagens partem na demanda de pilares sólidos em que a humanidade, no seu todo – independentemente de tons de pele, religiões ou outros –, se possa apoiar.
Consciente do trabalho que ainda terei pela frente para a consolidação das respostas que a vida me foi trazendo, aos cinquenta e três anos poderei dizer que «Mar Imenso» representa o remate (a cereja no topo do bolo) de uma vida de busca incessante.

2-Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R- Quando ao fim de vinte e dois anos, terminadas que estavam todas as guerras, voltei a Moçambique, senti a amizade estampada no rosto daquele povo que eu conhecia desde pequeno. Senti, também, as dificuldades que estavam a passar os países africanos. É certo que muitas destas dificuldades se devem talvez a politicas erradas e a políticos corruptos, mas, também, não é menos certo que parte dessas dificuldades se devem à política de rapina insensível praticada por um capitalismo desenfreado, dos países ditos desenvolvidos.
«Mar Imenso» é também um humilde contributo no sentido de alertar a opinião pública para esta realidade. Afinal, independentemente da cor de cada um ou de outras características, todos desejamos ser felizes!

3- Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R– Constatei que qualquer aparelho (seja ele electrodoméstico, máquina fotográfica, telemóvel, carro…) vem sempre acompanhado por um manual de instruções.
Ora, cada um toma consciência – em determinada altura da sua existência –, que é um ser e que possui uma vida para cumprir.
Esta vida é o bem mais precioso, no entanto, para a utilizar com racionalidade, não existe manual de instruções!
Reflectindo nisto, concluí que a razão de ser deste enigma, reside no facto de sermos seres únicos. E. como tal, ninguém estaria em condições de escrever o respectivo manual a não ser o próprio!
Decidi lançar mãos à obra….

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Augusto Carlos
Mar Imenso
Nova Vaga Editora