As pirâmides revertidas

O Egipto como fonte de eternos mistérios é inesgotável. Os entendidos em egiptologia nem sempre resistem ao apelo, foi assim desde o início no desenterramento desta civilização: os caçadores de tesouros não hesitaram em desfazer mitos e segredos em troca do ouro, ainda que muitas vezes tivessem de recorrer a explosivos. Os caçadores de mistérios já não usam explosivos, basta-lhes um processo retórico rentável.
Não é exactamente um destes “caçadores” de tesouros o autor deste “mistério descodificado”, subtítulo metido no capa da versão portuguesa. Sobretudo entendendo esta descodificação como “tornar acessível” e não na senda dos inúmeros códices que fazem reedições. Na verdade, a ideia original foi escrever um de “A a Z do Antigo Egipto”, o que é mais consentâneo com a realidade vertida na obra. Embora o mistério por ali se passeie, de forma um tanto confusa, tal a abundância de nomes, de lugares, de casos, de descobertas e de descobridores.
Daí que este seja livro para uma abordagem feita de longe: um deus que nos intriga, um porquê que não nos surge, um caso a recordar. É o exemplo, nebuloso q.b., da Cárter, Howard, o egiptólogo que conseguiu chegar ao intacto túmulo de Tutankamon. Isto em 1922, sem saque… Mas não tardaria a aparecer a maldição, com a morte de algumas das pessoas ligadas à descoberta do túmulo. Desde logo o patrocinador.
O problema é que Cárter viria a morrer muitos anos mais tarde, de insuficiência cardíaca. Há mistério e maldição nisto. Conclui o autor, depois de referir vários factores que poderiam levar à morte de quem entrasse nestes túmulos sem alguma protecção (para microrganismos, radiactividade…) que “o leitor tem a liberdade de escolher se quer ou não acreditar no poder da maldição, seja qual for o seu agente”. Como fazem, afinal, todos os leitores, em casos semelhantes.
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Simon Cox e Susan Davis
O Antigo Egipto, o Mistério Descodificado
Publicações Europa-América, 20,90€