As crenças de África

“Passei
oito a nove meses na África Oriental em 1966. Um mês na Tanzânia; mais ou menos
seis semanas nas terras altas do Quénia; o resto do tempo no Uganda. Alguns
anos mais tarde até usei uma versão do Uganda numa peça de ficção; só se pode
fazer isso se acharmos que temos uma boa ideia de um lugar, ou uma ideia
suficiente para as nossas necessidades. Quarenta e dois anos depois dessa
primeira visita voltei ao Uganda. Esperava iniciar lá este livro acerca da
natureza da crença africana e pensei que seria melhor ambientar-me ao meu tema
num país que conhecia ou semiconhecia. Mas encontrei um lugar que me iludiu.”.
Assim inicia V. S. Naipaul o seu ensaio “A Máscara de África”, publicado
originalmente em 2010 e em Portugal, pela Quetzal, nos finais de 2012.
O
escritor, natural de Trinidad e vencedor do Nobel da Literatura de 2001, fez um
périplo por África – começando no Uganda e passando pela Nigéria, Gabão, Costa
do Marfim, Gana e terminando na África do Sul – com o objetivo de entender as
crenças do Continente, das mais ancestrais às que sofreram alterações por
influência da religião ou mesmo da globalização. O resultado foi este ensaio de
quase três centenas de páginas.
Para
este livro dedicado às crenças religiosas, Naipaul socorreu-se de todas as
fontes vivas possíveis: falou com académicos e políticos, conversou com as
pessoas da terra, ouviu lendas e superstições, observou rituais. E concluiu que
em África, no princípio e no fim de todas as crenças está esse chamamento, ou
apelo, inexplicável da floresta – e dela que vem o mistério e a energia.
O
autor quis perceber como se fundiram o cristianismo e o islamismo com as
crenças africanas. “A Máscara de África” é, assim, um livro de certa forma
inclassificável, um misto de crónica de viagens, reportagem, ensaio
antropológico. A unir os diversos estilos está a escrita poderosa de Naipaul,
que nesta obra vai mais além e transcende (se tal é possível) a sua excelência
literária.

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V.
S. Naipaul 
A Máscara de África
Quetzal,
17,70€