Artur Pérez-Reverte: “Fugir só serve para morrer cansado e sem honra”
CRÓNICA
|Rui Miguel Rocha
Como já nos vem habituando, Pérez-Reverte apresenta-nos um livro de aventuras, na tradição dos grandes do século XIX, desta feita com a história de um dos maiores heróis de Espanha/Castela: El Cid. Daqui vêm vários nomes: Ruy Díaz, Ruy de Vilar, Ludriq, Rodrigo Díaz de Vivar, Sidi Qambitur ou simplesmente Sidi, como o autor prefere.
Histórias de guerra e valentia, mas também de dor e sofrimento e morte. Como na epígrafe de Elizabeth Smart: “Há homens que são mais recordados do que nações inteiras”, e isto num tempo em que as nações se esboroavam de um dia para o outro, mudando de mãos numa guerra eterna e fronteiriça, “naquela Espanha incerta de confins instáveis, povoada a norte por leoneses, castelhanos, galegos, francos, aragoneses, asturianos e navarros que umas vezes combatiam entre si, mudando de lado consoante soprava o vento, e outras faziam-no contra os reinos de mouros, o que não excluía alianças com estes últimos para, por sua vez, combater ou debilitar outros reinos ou condados cristãos.” Enfim, uma confusão.
Distâncias medidas em setas, o tempo em orações e cantares de galo, descrições perfeitas dos campos de batalha e dos atavios dos guerreiros, assim como do sangue que perdem e fazem perder. A coragem colocada à prova porque “fugir só serve para morrer cansado e sem honra.” A arte de liderar, quase um tratado de como conduzir homens, mesmo quando o desespero espreita em cada batalha, “correr perigos idênticos ao do resto da gente, convinha à sua imagem de chefe, provando que não exigia nada a ninguém que ele não pudesse fazer.”
A honra dos soldados, na sua maioria “homens simples, capazes de matar sem remorsos e de morrer como era devido” também dependia da “confiança aparente de um chefe” que “inspirava firmeza naqueles que o seguiam. Um espírito impávido ganhava mais batalhas do que quinhentas lanças.”
Uma lição de companheirismo entre homens simples, muitas vezes não acompanhado por nobres e reis.
E na guerra “os homens não são ideias; se os perdes, talvez não tenhas mais.”
Honrar os mortos e os inimigos valentes. Ser simples nunca foi fácil, muito menos quando a acompanhar as palavras têm de vir os actos. É essa a mensagem que nos traz Sidi Qambitur.
Gracias, Arturo.
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Arturo Pérez-Reverte
Sidi
Edições Asa 17,90€