Artur Barosa: “A utopia de poder controlar o tempo”


1-“Os Dias Depois
» é o seu livro de estreia: como espera poder olhar para ele daqui a 20 anos?

R- Um livro de estreia é sempre, de alguma forma, um recomeço. Penso que esta ideia está implícita no título do livro. Há sempre uma reflexão que nos faz marcar dias antes e depois de um acontecimento importante. Isto aplica-se a tudo. No meu caso pessoal, a escrita chegou num momento em que eu já não a esperava. Algo aconteceu e esse algo, que é indefinível, fica como uma memória. Daqui a vinte anos, gostaria de poder manter essa memória. Gostaria de poder dizer que tudo mudou, aqui, ou que, se calhar, essa mudança foi apenas a recuperação de um tempo que, para todos os efeitos, poderia não ter acontecido. Se essa memória permanecer, terá valido a pena.

2-Qual a ideia que esteve na origem desta obra?
R- A utopia de poder controlar o tempo. Não o tempo como dimensão do espaço, porque esse escapa-nos em todos os sentidos, mas o tempo que habitamos, como escreveu Sophia. Esse tempo é íntimo e a escrita permite entrar nessa intimidade e dispor do tempo. Habitar o tempo significa poder ser, para todos os efeitos. Significa uma liberdade absoluta, o que inclui a possibilidade de fixar o tempo numa só palavra, ou expandi-lo para além do que é fisicamente impossível. Cada poema é uma tentativa de criar um tempo.

3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Estou a escrever uma espécie de roteiro mental para poder dar continuidade a estes dias. Não sei, ainda, que forma assumirá essa continuidade. Sei que não será, para já, a ficção que gostaria, um dia, de escrever.
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Artur Barosa
Os Dias Depois
Elefante Editores  10€

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