Arthur Larrue: A arte e o jogo imitam a vida

CRÓNICA
|Rui Miguel Rocha

A vida não é um jogo de xadrez? Talvez seja e uns joguem melhor do que os outros ou entendam melhor o jogo ou alguns representem as brancas e outros as negras e haja peões, cavalos, torres, bispos, e sobretudo reis que se mexem pouco e rainhas poderosas. A arte e o jogo imitam a vida ou não será bem assim e a tal história dos ovos e dos pássaros se imponha como uma falácia perpétua.
Somos instrumentos do nosso tempo, vítimas das circunstâncias, cobardes ou heróis, seremos sempre seres com medo, peões quase reis, uma casa de cada vez. Os que têm cavalos são os que mexem cordéis, e esses cordéis podem a qualquer momento matar-nos. Como a Alekhine. Grande abertura com “nessa época, o campeão do mundo de xadrez chamava-se Alexandre Alexandrovitch Alekhine e tinha a afetação de não querer usar óculos fora do jogo. Ora, ele via muito mal.” A partir daqui assistimos ao percurso de uma decadência sem sacrifícios, “os sacrifícios implicavam sempre soberba”. Um russo naturalizado francês que cai na esparrela nazi para acabar em desgraça em Lisboa, perseguido por todos, mas principalmente por si próprio. “A vida de antes é sempre mais ligeira e feliz”, principalmente depois de se tomarem decisões contra o que sempre pensámos para nós. Mas antes da desgraça, a elegância: “porque Przepiórka achava que os poetas, os jogadores de xadrez, os pintores e quantos ele designava como ‘trabalhadores do inútil’ deviam vestir-se com orgulho, melhor que os banqueiros e os homens de negócios.” A elegância também de Bromfield pois “a vida era para ele um desporto e a bondade, um fair-play.” E quanto à recusa em nos batermos para manter o que conquistámos, devemos sempre lembrar que “não há jogo sem adversário” e que não se deve usar “nunca o castanho depois das seis horas.” Concordo e mantenho e talvez aplique.
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Arthur Larrue
A Diagonal Alekhine
Quetzal

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