Arménio Rego/Miguel Pina e Cunha: OrganizaCão


1- Os cães acompanham o Homem há milhares de anos: a vossa pesquisa que novos
olhares traz para a compreensão desta relação?
R- Os cães estão a ganhar novas formas de presença na vida humana. Além das
tradicionais, relacionadas com os seus atributos físicos e com o estatuto de
animais de companhia, começam a ter funções simbólicas e relacionais mais
marcadas. Os cães são ajudas cruciais nas guerras (daí que medalhas de mérito
lhes sejam atribuídas), nas catástrofes, nos relacionamentos sociais e mesmo na
deteção de doenças (como a epilepsia ou a diabetes). Evidência científica
publicada na Science mostra que, quanto interagem, os humanos e os cães
segregam oxitocina, a hormona  do
“bem-estar” (do “amor”, segundo alguns).  Não é, pois, surpreendente que os cães
estejam a ingressar na vida das organizações como entidades “respeitáveis”. Um
pequeno passo para o cão, um grande passo para a humanidade que se humaniza ao
tratar bem os animais.           

2- Os cães nas organizações: que boas práticas identificaram?
R- Os cães podem facilitar relacionamentos, ajudar a melhorar o ambiente
social, desanuviar a comunicação e contribuir para a redução do stresse.  Podem ajudar a humanizar o ambiente de
trabalho desde que respeitadas as regras de bom senso. Tem vindo a crescer a
quantidade de organizações (como a Amazon, a Google, a Nestlé, a Salesforce)
com políticas amigas dos cães. Naturalmente, há princípios a observar. Por
exemplo, importa defenir regras claras sobre o que é ou não aceitável no
comportamento canino e na conduta do dono. Requer-se que os cães estejam
vacinados, “asseados” e instruídos, e que sejam claros os critérios a usar para
conceder a autorização de ingresso do cão na organização. Os cães devem estar
sob olhar atento dos seus donos e ser sempre acompanhados. É igualmente
importante a criação de espaços e condições para que os animais possam comer e
beber, e para que a higiene seja mantida.
3- O que podemos aprender com os nossos fieis amigos em termos de
desenvolvimento de competências pessoais e de gestão?
R- Aprendemos que as organizações são espaços muito mais complexos do que
muitas vezes pensamos, que há nos cães qualidades admiráveis com que os humanos
podem aprender – como a dedicação leal e uma inocência que tempera o cinismo
dos humanos. Há mesmo quem afirme que os cães são dotados de um sentido de
moralidade que alguns humanos desprezam. Quando brincam entre si, os cães
seguem “regras do jogo”. A gentileza das bestas mostra que, às vezes, as
bestialidades não estão onde se pensa que estariam. É indubitável que há
comportamentos caninos agressivos – mas os humanos são diferentes?!
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Arménio Rego/Miguel Pina e Cunha
Organizacão

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