Arlindo Oliveira: “Em muitos aspectos, já nenhum de nós controla a sua vida”
P-Qual a ideia que esteve na origem deste seu livro «Ciência, Tecnologia e Sociedade»?
R-É um livro que reúne um conjunto de textos que tenho escrito ao longo dos anos, devidamente organizados por temas, focados em desenvolvimentos recentes (e não tão recentes) da tecnologia e no seu impacto na sociedade. Foca em temas tão relevantes como a IA (Inteligência Artificial), o ambiente, a energia, as redes sociais, as moedas digitais e o metaverso, temas que são importantes e actuais.
P-De repente, parece que a Inteligência Artificial condiciona todos os debates e reflexões sobre ciência e tecnologia na actualidade: é excessivo este protagonismo ou estamos todos mesmo a viver uma etapa de aceleração tecnológica com múltiplos impactos?
R-Não é só a IA que condiciona tudo, toda a componente da revolução digital, das comunicações e da mobilidade têm tido muito impacto nas nossas vidas. Estamos de facto a viver tempos em que as alterações tecnológicas são muito aceleradas, e a possibilidade de substituir funções normalmente desempenhadas por seres humanos através do uso da IA pode, de facto, ter alterações profundas na sociedade.
P-Do seu ponto de vista, podemos encarar os novos instrumentos tecnológicos com optimismo, com apreensão ou com um misto de ambos?
R-Eu encaro as alterações tecnológicas com bastante optimismo, em parte porque estas alterações têm, nos últimos séculos, contribuído para a melhoria das condições de vida da humanidade. Mas é inegável que novas e poderosas tecnologias, como o nuclear, o motor de combustão interna ou a bioengenharia, para além da IA, trazem inegáveis riscos que têm de ser geridos. Até agora, a humanidade conseguiu gerir razoavelmente bem estes riscos, é uma incógnita se vamos conseguir continuar a fazê-lo no futuro.
P-A influência em muitas dimensões da nossa vida é, por vezes, assustadora: corremos o risco de perder o controle?
R-Em muitos aspectos, já nenhum de nós controla a sua vida. Governos, grandes empresas, movimentos ideológicos controlam, mais do que qualquer um de nós, o futuro das nossas vidas. Não me parece que os tempos que vivemos sejam diferentes nesse aspecto.
P-Concentrando a nossa atenção mais concretamente em Portugal: qual a exposição do nosso país a todas estas mudanças em curso?
R-Portugal, um país pequeno e com limitados recursos humanos e económicos, pode beneficiar significativamente destas novas tecnologias, que permitem, em princípio, aumentar a produtividade e superar a falta de competitividade por recursos humanos que temos, devido aos nossos baixos salários. Se conseguiremos ou não aproveitar a oportunidade depende de muitos factores, e em particular de criarmos as condições para novas empresas operarem e se estabelecerem em Portugal.
P-Pensando no futuro: será que se consegue prever (ou antecipar) os novos instrumentos ou as novas tecnologias que serão uma realidade em 2030 ou 2040?
R-Estou convencido que a integração de modelos de linguagem com outras tecnologias, como bases de dados, motores de raciocínio e ambientes virtuais irão ser uma realidade na próxima década e alterar profundamente a forma como interagimos com a Internet.
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Arlindo Oliveira
Ciência, Tecnologia e Sociedade
Guerra e Paz 17€