António Panarra: Está frio lá fora…
1-«Está Frio Lá Fora…» é o seu primeiro romance: como espera poder olhar para esta obra daqui a 20 anos?
R-Sem ter pretensões a que o meu livro se torne um clássico da literatura, considero no entanto que perante a perenidade e, de certo modo, a intemporalidade de alguns dos temas de que trata – o amor e a sua perda, a expressão livre da sexualidade de cada um, a memória e o modo como lidamos com ela, a morte, a eternidade – seja possível que daqui a 20 anos o livro possa ser ainda de leitura agradável e sobretudo pertinente.
2-Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
R-A ideia básica que desencadeou o processo da escrita foi uma história, relativamente banal, que me foi contada: uma rapariga, com pouco mais de trinta anos, casada, com filhos, vida estável, reencontra o seu primeiro namorado. Depois de um período inicial de encantamento tudo acaba por correr mal e a rapariga, profundamente magoada, entra numa fase de intensa angústia existencial. Esta história, que não teve um final feliz, fez-me questionar primeiro sobre a forma como a desilusão amorosa pode ser um factor de marcada transformação no modo como um indivíduo se percepciona, como vê a vida, como lida com a memória, como gere a expectativa do final. De seguida, a própria escrita e a construção das personagens criou, desde muito cedo, uma dinâmica própria que exigiu, pura e simplesmente, o seu desenvolvimento e a exploração de outros temas – a liberdade na vivência da sexualidade, a convivência com a morte e a sua presença enquanto fenómeno do quotidiano, a importância da percepção e respeito pelas diferenças entre os seres humanos – os quais se obrigaram à extensão da narrativa, lhe trouxeram também, em minha opinião, uma maior riqueza descritiva bem como ao conteúdo das personagens e às relações que estes estabelecem entre si.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Ainda em fase preparatória, muito preliminar, estou a trabalhar num texto que pretente reflectir sobre a ideia da liberdade: o seu significado, as suas implicações, os seus constrangimentos e limitações e sobretudo o seu valor. A história inicia-se durante a Guerra Civil de Espanha e decorre até à actualidade, convocando um conjunto de personagens que se desdobrarão em três gerações sucessivas com vivências e opiniões que, sendo contrastantes sobretudo pelas circunstâncias históricas que vive cada uma, se unificarão no consenso, na preocupação, pela preservação da liberdade enquanto factor determinante da plena cidadania.
__________
António Panarra
Está frio lá Fora…
Guerra e Paz 18€