André Osório: “Um livro em construção antes de o ser”

1- O que representa, no contexto da sua obra, o livro «Observação da Gravidade»?
R- Ressalvando que o livro «Observação da Gravidade» foi o meu primeiro e único publicado, a pergunta que talvez importe responder seja precisamente a inversa: em que medida, no contexto do meu «Observação da Gravidade», se representa a minha obra? Pergunta que, no fundo, está ligada à primeira. O meu «Observação da Gravidade» é o fechar de uma primeira fase, desde que comecei a escrever há já uns anos atrás até à finalização do trabalho de edição do livro e a sua entrega às gráficas da Guerra e Paz. Penso que tem sido um livro em construção antes de o ser. Publiquei, antes dele, alguns poemas em revistas literárias como a Apócrifa (2018), a Folhas, Letras & Outros Ofícios (2019), a Porridge Magazine (2019), a Lote (2019) e a Palavra Comum (2020), que ajudaram-me a sedimentar ideias e formas de dizer que estão depois presentes no meu «Observação da Gravidade», publicado em Agosto de 2020, tendo sido publicados num processo de escrita que já era o do livro. Alguns deles, noutras versões, acabaram mesmo por integrá-lo. Claro que, em termos temáticos, importa-me retoricamente inverter a pergunta: trata-se de um efeito gravítico que fecha o que posso considerar uma primeira fase. Uma espécie de infância, fechada sob o que a afasta de si. «Observação da Gravidade» é o fixar, no seu interior, de todo o processo que conduziu à constituição de um olhar sobre si mesmo.

2- Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
R- Uma primeira origem do livro é a clara necessidade da sua expressão, algo íntimo que poderá transparecer de poema para poema. Estar frente a frente, e de certo modo, dentro do que se escreve. Uma segunda origem foi a chegada ao título «Observação da Gravidade», que antes de dar nome ao livro deu nome a um poema rasurado. Sobrou o título com a reescrita do poema nas 37 partes, ou poemas, que o constituem. Tendo em conta a disposição dos poemas no livro e suas sub-secções acaba por ser importante o salvaguardar de uma ideia de centro que permita a fixação de cada parte. Trata-se de uma reorganização temporal, e tal implica uma organização espacial. Em termos de ideias que poderão estar na origem do livro, além das várias influências citadas na sua duração, está a ideia de criação de um lugar onde é possível ficar apesar do tempo, mesmo que este entre ainda pelas brechas e disturbe a possibilidade de um encontro. É, de algum modo, um espaço de conflito, de confronto, onde o leitor é convidado a entrar quando, na verdade, já se encontra por dentro. Há algo que se perde e se conserva na forma da sua perda.

3- Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- De momento revejo a tradução que fiz, nos últimos meses, do primeiro livro de poesia do Nobel Seamus Heaney, Death of a Naturalist. Organizo a minha contribuição para o terceiro número da Lote (poesia e ensaio). Escrevo.
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André Osório
Observação da Gravidade
Guerra e Paz  10€

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