Analita Santos: “O papel dos pais e professores é decisivo”

P-Qual a ideia que esteve na base deste seu novo livro «Erros de Português Nunca Mais»?
R-Este livro foi resultante de um convite da editora Manuscrito, considerando todo o trabalho que tenho vindo a desenvolver quase diariamente nas redes sociais em prol do «cuidado com a Língua» e o incentivo à leitura e à escrita. De certa forma, foi um reconhecimento desse esforço e dedicação quase ao jeito de «serviço público».

P-Escrevemos cada vez mais mas a língua portuguesa está a sofrer com a banalização/desculpabilização do erro em ambientes como as redes sociais onde se tornou “normal”.
R-A questão que colocou é relevante e preocupa muitos profissionais da língua portuguesa e educadores. O uso crescente das redes sociais e da comunicação digital traz desafios linguísticos. A comunicação online, em plataformas como as redes sociais, muitas vezes privilegia a rapidez e a informalidade em detrimento da precisão linguística. A necessidade de escrever de forma rápida e concisa conduz a erros gramaticais, ortográficos e de estilo. Além disso, a limitação de caracteres incentiva a utilização de abreviações e gírias não apropriadas em contextos formais. Importa notar que a língua é uma entidade em constante evolução, moldada pela forma como as pessoas a utilizam. No entanto, o desafio é encontrar um equilíbrio entre a evolução natural da língua e a preservação das normas e convenções em contextos apropriados. Compete aos educadores, aos meios de comunicação e à sociedade em geral promover a educação linguística e incentivar o uso adequado da língua. A literatura desempenha aqui um papel essencial, incluindo a leitura de obras como «Erros de Português Nunca Mais».

P-Ainda vamos a tempo de inverter esta tendência de se aceitar o erro por causa da pressa ou por outro motivo menor? Como?
R-Sim, claro que sim. Partilho algumas considerações. A educação linguística surge como ponto central. É essencial fortalecer o ensino de gramática, ortografia e vocabulário nas escolas, mas de forma apelativa. Criar a proximidade das crianças à escrita (e à leitura) como algo divertido, prazeroso, e não uma obrigação. O papel da família neste processo não pode ser descurado. Os meios de comunicação, enquanto agentes influentes, precisam de adotar padrões linguísticos (mais) rigorosos. A propagação do erro começa, muitas vezes, por aqui, através do efeito contágio dos jornais, noticiários, rádio. Por vezes, sabemos como se escreve uma palavra, mas, ao vê-la de forma errada com frequência, acabamos por ficar na dúvida. Fomentar a leitura de obras literárias, ensaios e textos, preferencialmente, de autores portugueses é uma estratégia eficaz. Os ativistas literários que atuam nas redes sociais têm contribuindo bastante para a aproximação dos jovens à leitura, e acredito que isso também acabará por se refletir na escrita. Primar pelas correções do erro linguístico de forma construtiva, promovendo o aprimoramento e nunca numa perspetiva de «polícia do erro». Mesmo em ambiente formativo, a falha deverá ser assinalada de forma discreta para incentivar a aprendizagem, sem diminuir ninguém. O recurso à tecnologia, como corretores ortográficos e gramaticais, é útil, mas não deve ser uma substituição para a revisão manual. Existem alguns erros difíceis de detetar pelo corretor automático. Por isso, criei uma secção no meu livro com alguns exemplos práticos, alertando para esse facto. O reconhecimento e valorização das normas linguísticas em contextos formais, como documentos profissionais, académicos e governamentais, assume uma importância inegável. O exemplo «deve começar de cima». Em ambiente digital, caracterizado pela comunicação rápida, cultivar a paciência e a atenção à escrita, mesmo em mensagens breves, é essencial. Tal como olhar mais do que uma vez antes de publicar seja o que for. A revisão faz parte do processo de escrita. É possível combater a tendência da desculpabilização e minimização da importância dos erros linguísticos através da implementação de estratégias educacionais, consciencialização e valorização da comunicação precisa e cuidada. A palavra-chave é mesmo essa: consciencialização. Consciencialização da importância do bom uso da palavra escrita, do «cuidado com a língua». O erro linguístico leva à deturpação da mensagem, da comunicação — e todos queremos ser bem compreendidos.

P-Quais as suas melhores sugestões para quem quiser errar menos?
R-As minhas melhores sugestões são ler bastante e comprar o meu livro. O Capítulo 4 e as suas dez dicas para melhorar a sua escrita contribuirão certamente para que o erro aconteça cada vez menos.

P-Que papel podem ter os pais e os professores na mobilização da população mais nova para o combate a este problema?
R-O papel dos pais e professores é decisivo, através da orientação, da educação e do exemplo. Ao demonstrarem o uso correto da língua e cultivarem o apreço pela comunicação cuidada, os adultos exercem uma influência notável sobre as crianças e os alunos. É fundamental dar ênfase à educação linguística desde cedo no processo educativo. Isso abrange não apenas o ensino da gramática mas também a promoção da leitura e da escrita, aliada a conversas sobre a relevância de comunicar de forma clara. Como já afirmei anteriormente, todos gostamos de ser bem compreendidos. Fomentar o gosto pela leitura é essencial. Criar um ambiente que estimule a leitura em casa abre portas para a descoberta e o enriquecimento do conhecimento do bom uso da língua portuguesa (e não só). Quando ocorrem erros linguísticos por parte das crianças ou alunos, é crucial abordá-los de forma construtiva, explicando o equívoco e apresentando a forma correta, sem recorrer a críticas ou julgamentos. Não são só as reguadas que deixam marcas. A escrita criativa é também um recurso para o desenvolvimento das competências linguísticas, permitindo a expressão de ideias de forma imaginativa e envolvente. Integrar esta prática no currículo escolar enriquecerá a experiência educativa. Pais e professores têm à sua disposição recursos educacionais, como livros didáticos e jogos linguísticos, que tornam o processo de aprendizagem mais estimulante. A criatividade é sempre um bom instrumento educativo. Promover a capacidade dos jovens de discernir entre informações verdadeiras e falsas é igualmente relevante, sobretudo num mundo digital em constante evolução onde a desinformação passa despercebida junto dos mais incautos. Como mãe, formadora e mentora literária, acredito que o grande papel dos pais e dos professores neste processo é o exemplo. Como afirmou Albert Einstein, «O exemplo não é uma maneira de ensinar, é a única maneira de ensinar.» É isto que procuro fazer no dia-a-dia junto das minhas filhas e dos meus alunos. O livro «Erros de Português Nunca Mais» é mais um instrumento nesse sentido.
__________
Analita Santos
Erros de Português Nunca Mais
Manuscrito  14,90€

COMPRAR O LIVRO