Ana Margarida Chora | Diadema

1 – O que representa, no contexto da sua obra, o livro
“Diadema”?
R – Diadema representa uma síntese de interesses estéticos,
literários e culturais. E digo estéticos, porque combina o revivalismo das
tendências literárias do Simbolismo (do final do século XIX, início do século
XX) com a Art Nouveau e a Art Déco, que inspiraram as ilustrações, que são
também da minha autoria. Falo de interesses literários, pois esta obra remete
para referências de autores e temas em voga na Belle Époque, que foi uma época
riquíssima em termos literários e em que a literatura esteve muito próxima de
outras artes, nomeadamente as visuais e performativas. E também culturais, uma
vez que o contexto cultural se revela bastante complexo. Há que conhecer um
pouco a época inspiradora para se poder apreciar a obra Diadema. E se não se
conhecer, Diadema é um singular ponto de partida. Sou medievalista e também
orientalista, desenvolvendo actividades artísticas paralelas, pelo que a Belle
Époque, que desenvolveu o gosto burguês pelo Oriente e proporcionou o
desenvolvimento dos estudos medievais, me suscitou uma particular atenção. Antes
de Diadema, publiquei a obra poética Janela sobre o Tempo que, embora
diferente, já marca algumas destas observações estéticas que Diadema prossegue.
Para além disso, tenho obra académica publicada, na área da literatura,
designadamente a obra Lancelot – do mito feérico ao herói redentor, e muitos
artigos científicos que constituem registos de um trabalho que se constrói com
materiais que visam a solidez e a diversidade.
2 – Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
R – Contrariamente à maior parte dos livros de poesia,
Diadema obedeceu a um projecto temático, não sendo, por isso, uma mera
compilação de poemas. Sentia-me profundamente ligada à Belle Époque e à sua
estética, por aquilo que ela envolveu em tudo o que é do meu interesse: o
retorno à Idade Média, o Orientalismo, as artes visuais e performativas e a sua
ligação não só aos temas como à própria estética literária. Já Janela sobre o
Tempo
havia contado com as minhas ilustrações. Mas desta vez os desenhos foram
feitos propositadamente tendo em vista as temáticas dos poemas a que se
referem. Por isso há uma grande unidade nesta obra em termos estéticos.
Os diademas eram acessórios das actrizes e bailarinas das
artes performativas da Belle Époque, tanto do teatro como da ópera e do music
hall
.  Eram maioritariamente inspirados
na arte bizantina e indicavam a nobreza, o poder e a beleza das personagens que
os usavam. Para mim, “diadema” significa uma coroação da união das várias artes
e daí a ideia de usá-lo como título, como capa e como tema poético, confirmando
a teatralidade subjacente à concepção da obra.             
3 – Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R – Neste momento encontro-me a redigir alguns textos de
carácter académico da minha especialidade (Literatura Comparada), cujas
investigações tenho em curso. Tenho a minha tese de Doutoramento por publicar
(na área da literatura arturiana) e essa é uma tarefa que se impõe. A poesia
vai surgindo simultaneamente nos intervalos e nas imediações de tudo isto, ou
seja, tanto nos espaços livres que surgem como em planos de proximidade
relativamente às demais escritas.
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Ana Margarida Chora
Diadema
Chiado Editora, 12€