Ana Bárbara Pedrosa: Lisboa, Chão Sagrado

1-«Lisboa, chão sagrado» é o seu romance de estreia: como espera poder olhar para ele daqui a 20 anos?
R- Espero que, daqui a vinte anos, já não me ocupe muito, que já estejam outros livros mais prementes e que a fórmula deste não possa ser vista em mais nenhum. Que tenha feito o seu caminho sem me dar espaço a arrependimentos, mas que seja o meu pior livro sem dúvida.

2-Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
R- Foi uma ideia que acabou por não se concretizar. Da primeira vez que fui ao Panorâmico de Monsanto, levei com aquela chapada de Lisboa em bruto. E de repente tive um cenário: dois rapazes da periferia ali a olhar para aquilo. Depois nem cheguei a usar esses rapazes nem esse sítio, o que ficou latente foi Lisboa. Quis um romance em que se cruzassem vidas diferentes e em que se cruzassem cruzamentos. Pude juntar a cidade a outras: Rio de Janeiro, Roma, Jerusalém, Acarajuba. E pude fazer muitas coisas diferentes. Quis também poder ter uma linguagem múltipla, daí o português europeu e vários tipos de português do Brasil. Quis inventar uma cidade: Acarajuba, de onde veio Dulcineia. Depois quis simplesmente meter a faca nos desencontros de expectativas, até gozar com o ridículo de cada personagem. O romance também me permitiu usar a velocidade à século XXI, seja na ideia de liquidez das relações, seja na facilidade com que se salta de um continente para o outro. A ideia de a existência (não o motivo) desse movimento ser independente da classe social também me atraiu, porque me permitiu repetir cenários com gente diferente, e mostrá-los expandidos. Também serviu para explorar a diversidade que existe numa capital, a conjugação de culturas, a maravilha que é a coetaneidade de gente diferente, quase oposta, e de como pode chegar-se ao outro. De resto, acho que a linha comum a tudo são os desencontros de expectativas. Foi o que me interessou mais. Enfrentá-los mata o cinismo e escrever também serve para isso.

3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Ainda pensando no presente, estou a escrever outro romance. Mantém duas personagens de “Lisboa, chão sagrado”, mas de resto tem outro tipo de narrador, outros temas, outro olhar.
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Ana Bárbara Pedrosa
Lisboa, Chão Sagrado
Bertrand Editora  15,50€

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