Ana Bárbara Pedrosa: Explorar outro terreno literário e lexical

1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro «Palavra do Senhor»?
R-Representa um segundo passo muito diferente do primeiro, e portanto uma recusa a estar confinada a um estilo. A proposta estética é muito diferente da do Lisboa, Chão Sagrado e poder explorar outro terreno literário e lexical era primordial na altura em que comecei a escrever o Palavra do Senhor. Não me interessa repetir fórmulas nem mastigar cenários.

2-Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
R-Quis pôr-me na cabeça de uma personagem que é sempre vista de fora, de uma figura que está sujeita a várias interpretações, que tem dado alento a fanáticos, motivado guerras, condicionado governos, atrasado o progresso social, manipulado a moral. Claro, quem diz agir em prol de Deus deve julgar que cumpre a sua vontade — ainda que a figura não tenha qualquer voz. E é engraçado ver como há tantas certezas a girar em torno de nada, grandes discursos, grandes obras, grandes ódios. Também é perigoso, claro. Sabendo que estas perspectivas se erigem numa ilusão, interessou-me o exercício em que me punha no osso do dogma e, a partir daí, contava a verdade — e a verdade absoluta, não sujeita a interpretações ou a dúvidas. Claro que, à medida que se lê, também se põe em causa o que diz este narrador.

3-Esta é versão de Deus ou apenas mais um conjunto de boatos e mal-entendidos?
R-Este é um romance. Não pretende ter o cariz de um texto religioso nem dar resposta a dúvidas. Não pretende fazer-se passar por verdade nem acrescentar dogmas. Aqui interessou-me fazer o que só a literatura pode fazer, chegar a uma lacuna e explorar uma hipótese. Para isso, o essencial foi encontrar um fio condutor da narrativa que a legitimasse e encontrar um tom que estivesse ao serviço do texto.
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Ana Bárbara Pedrosa
Palavra do Senhor
Bertrand  14,40€
[Fotografia: Paula Nunes]

Ana Bárbara Pedrosa na Novos Livros | Entrevistas

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