Américo Brás Carlos: o bebedor de tisanas
1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro O Bebedor de Tisanas?
R- O Bebedor de Tisanas – Poemas em Verso e Prosa é o meu quarto livro de poemas e trouxe dos livros anteriores alguns traços, que quis manter. Recordo, designadamente, a liberdade perfeita da infância, a procura da emoção, um certo humor grácil (ou uma tentativa disso); e, sobretudo, a coragem de colocar no centro de alguns poemas várias imagens mais prosaicas, ausentes do registo habitual da actual poesia portuguesa. É assim que, entre outros, aparece neste Bebedor de Tisanas a memória infantil da liberdade a propósito de um jogo de futebol entre crianças, um maratonista que faz versos alexandrinos na passada ou um pugilista que planta ranúnculos. Naturalmente que este livro recebeu também toda a aprendizagem vinda dos seus antecessores, ou não fosse o trabalho do poeta uma contínua oficina de introspecção e aperfeiçoamento. E, nessa medida, é um livro que continua o processo de apuramento dos anteriores. Não posso esquecer, ainda, que este livro marca o aparecimento da prosa poética no conjunto da minha obra.
2-Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
R- Respeitadas as devidas distâncias, só em parte posso responder como T.S. Eliot quando lhe perguntaram qual a sua intenção ao escrever The wast land. É verdade que, no fundo, também eu não tinha outra intenção que não fosse a de livrar-me dessa “coisa” que me pesava no peito e que mais não era do que o conjunto de poemas que vieram a desaguar no Bebedor de Tisanas. Devo dizer, porém ( e aí a diferença) que o livro foi previamente delineado na sua estrutura. Antes da respectiva preparação, eu já tinha decidido que seria um livro de poesia para ler como um romance sem flashback, não obstante alguns acenos ao passado. Esta intenção veio a concretizar-se na sua sequência cronológica em três partes precedidas de um prólogo ao jeito de uma teoria geral da poesia em verso e em prosa presente no livro.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Está a acontecer-me o mesmo que se passou quando intercalei o tempo que dediquei ao Bebedor de Tisanas com o que dediquei ao livro de investigação histórica A Greve Camponesa de 8 de maio de 1944 em Azambuja e Baixo Ribatejo. Neste momento, estou a iniciar dois livros: um é um romance e o outro (alguns acharão uma heresia, mas é um compromisso antigo resultante da minha actividade de mais de 35 anos de docência universitária) é mais um livro técnico sobre impostos. Um escritor português disse numa entrevista recente que enlouqueceria se se dedicasse apenas à escrita literária. Talvez eu pertença a esse grupo, não sei. Há muitos e muito bons exemplos de escritores que se dedicam à escrita literária em exclusivo e de escritores que o fazem paralelamente a outras actividades.
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Américo Brás Carlos
O Bebedor de Tisanas
Guerra e Paz 12€