Américo Baptista | O Futuro da Psicoterapia

1- De que trata este seu livro “O Futuro da
Psicoterapia”?
R- Em primeiro lugar, é feita uma apresentação histórica das
principais escolas de psicoterapia, nomeadamente, as psicoterapias baseadas na
linguagem, no comportamento, no pensamento, designadas por psicoterapias
cognitivas, que foram desenvolvidas tendo por base os seus modelos teóricos
específicos, e as psicoterapias tendo como foco a resolução dos problemas
conjugais e sexuais. Depois são apresentados os desenvolvimentos posteriores na
psicoterapia. Primeiro as psicoterapias empiricamente suportadas, que põe a
enfâse não num modelo teórico, mas nos testes de eficácia de cada tratamento
psicológico para determinadas perturbações e que deram origem ao movimento
atualmente em curso designado por “Melhorar o Acesso aos Tratamentos
Psicológicos”. Nesta perspetiva o aspeto principal é a eficácia
demonstrada pelos tratamentos psicológicos para determinadas perturbações
específicas. São depois apresentadas a psicologia da saúde e a psicologia
positiva. A psicologia da saúde é a aplicação da ciência psicológica ao
tratamento das doenças físicas e do estilo de vida e como este conhecimento
pode ser utilizado para, por exemplo, aumentar a longevidade e vai ao encontro
da definição de saúde proposta pela Organização Mundial de Saúde em 1948, como
estado completo de bem-estar físico, mental e social, e não meramente a
ausência de enfermidade ou de doença. A psicologia positiva pode modificar os
tratamentos existentes incluindo componentes de modo a aumentar a afetividade
positiva ou a felicidade, como já foi feito com sucesso na cardiologia. A
psicologia positiva pode ainda alterar as práticas atualmente vigentes,
nomeadamente, a passagem de um modelo de tratamento das doenças para um modelo
em que se previnem as doenças e que está atualmente a ser testado nos militares
do exército dos Estados Unidos, uma amostra sem precedentes na história da
psicologia composta por 1,1 milhões de pessoas. A psicologia positiva
desenvolveu ainda metodologias que se propõem a aumentar a felicidade na
população em geral. Um outro aspeto abordado são os processos psicológicos que
estão subjacentes às perturbações emocionais, nomeadamente a atenção, a
interpretação e a memória que se encontram enviesados tanto nas perturbações
ansiosas e depressivas, como nas pessoas otimistas. Um conhecimento melhorado
da modificação destes processos pode dar origem a novos tratamentos
psicológicos. Interessante é que estes mesmos mecanismos estão, igualmente,
presentes em animais e podem ser modificados. Um outro capítulo, que já
antecipa o futuro, relaciona-se com o conhecimento atualmente em franco
desenvolvimento sobre o funcionamento do cérebro. São descritos os
procedimentos em que se baseiam dando origem às Interfaces Cérebro-Computador
ou Interfaces Cérebro-Cérebro que permitem extrair os sinais elétricos de um
cérebro, conduzi-los a um sistema informático que por sua vez movimenta uma
prótese mecânica: Com estes tipos de sistemas é possível que pessoas
paralisadas, por exemplo, tenham maior mobilidade, escrevam cartas em
computador ou que dois cérebros comuniquem diretamente entre si. Finalmente é
antecipado o futuro que se apresenta como a disponibilização deste conhecimento
nos cuidados primários de saúde, para crianças e adolescentes, para adultos,
para idosos, para além da utilização destes tratamentos em populações
especiais, como nas situações de exclusão social. Para além dos argumentos
acerca da eficácia dos tratamentos psicológicos são apresentados argumentos
económicos que justificam a sua utilização generalizada. O livro termina com
descrições das más práticas em psicoterapia no capítulo Os Efeitos Negativos da
Psicoterapia.

2- De forma resumida, qual a principal ideia que espera
conseguir transmitir aos seus leitores?
R-Que os tratamentos psicológicos são particularmente
eficazes, têm menor taxa de recaídas e serão, no futuro, a primeira escolha nas
perturbações da ansiedade, da depressão, nos problemas conjugais e sexuais e no
desenvolvimento de recursos e competências que ajudem a lidar com sucesso com
as dificuldades do dia-a-dia ou com acontecimentos traumáticos.

3-Num contexto de crise continuada e de acordo com a sua
experiência, como pode a psicoterapia ser útil no futuro (ou já hoje)?
R-No contexto de crise é já útil hoje e, com a divulgação
deste conhecimento, será ainda mais útil no futuro. Em primeiro lugar pelo
combate à desmoralização e a apatia que apenas ajudam a manter um ciclo vicioso
de mais apatia e desmoralização. Depois pelo encorajamento da adoção de estilo
de vida de confronto que leve a encontrar alternativas de vida. Ainda
particularmente relevante o desenvolvimento de um clima otimista e positivo nas
empresas e seus funcionários demonstrou que a produtividade aumenta à volta de
12%. Que disciplina do conhecimento pode dar uma ajuda decisiva a efetuar isto?
Penso que o futuro da psicoterapia irá florescer e todos deviam saber isto.
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Américo Baptista
O Futuro da Psicoterapia|
Pergaminho, 15,50€