Alexandra Malheiro | A Urgência das Palavras

1. O que representa, no contexto da sua obra, o livro “A Urgência das Palavras”?
R- Representa o percurso feito entre o primeiro livro que publiquei – “Sombras de Noite” – e o seu sucessor – “Circulação Transversa”, isto porque foi escrito entre um e outro, ficando como que “encurralado” entre os dois, a ganhar musgo numa gaveta durante alguns anos. Ao publicá-lo foi como que uma forma de readquirir a dignidade que lhe era devida. No contexto da minha obra publicada é, provavelmente, o mais luminoso, o menos escuro e o mais rítmico e por isso mesmo o que mais se aproxima da Música. Sem que disso seja feita referência no livro há nele vários poemas onde discretamente faço homenagem a alguns dos meus poetas “do coração”, os que moram em mim de forma permanente pela sua música, a música imanente nas suas palavras. De comum com os que o precederam há nos poemas que o compõem um apelo aos sentidos, é poesia dita “da pele” e à flor dela. É o caminho na busca da luz pela palavra – o seu ritmo, a sua harmonia e o seu signo, linha comum a tudo o que tenho escrito.

2. Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
R- Sendo um livro de poemas não há uma ideia base subjacente à sua concepção, há antes uma linha estética comum, de forma a tornar o livro coerente consigo próprio. Procuro de livro para livro mostrar as diferentes faces de um mesmo núcleo temático. Cada livro representa uma diferente fase da minha escrita, procurando evoluir ainda que num contínuo; cada um deles é, assim, um passo numa estrada que sei onde se iniciou mas não sei como vai evoluir e por onde seguirá. Procuro escrever sem um referencial, embora considere só ser possível escrever sobre o Amor e a Morte, tudo o resto são variações destes dois temas que ora se fundem ora se cindem, como jogos de luz e sombra. Para existir sombra tem de haver luz e não existe luz sem a sua sombra.

3. Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Poemas. Vou sempre escrevendo poemas, umas vezes de rajada, outras vezes com longas pausas a que chamo pousios, onde procuro encontrar outras palavras e fórmulas para voltar a falar do mesmo – o Amor e a Morte – seja travestidos do sensual encontro de pele e suor ou agastados pelas cores sombrias das ausências e da solidão. Tenho, neste momento, dois livros completos a aguardar a melhor altura de verem a luz do dia mas depois deles já tenho uma mão-cheia de poemas que ainda não se encontraram entre si, ainda não se ligaram por uma mesma “mancha estética”. Entretanto pego, ocasionalmente, num velho projecto tantas vezes interrompido de um livro de contos chamado “Contos da perplexidade” para o qual escrevi já treze contos mas ainda a precisar de retoques.

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Alexandra Malheiro
A Urgência das Palavras
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