Alexandra Malheiro | Luz Vertical

1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro «Luz Vertical»?
R- Evolução. É o meu livro mais maduro e também o mais produzido. É aquele onde consegui melhor depurar a linguagem. Pretendo sempre ir burilando a minha poesia até ela ser mais luz e menos poeira, retirar-lhe o acessório para me concentrar no essencial. Além dessa evolução que julgo ter conseguido, face aos livros anteriores, é também o mais produzido do ponto de vista formal: tem belíssimas ilustrações do Miguel Ministro, que é também responsável pela capa e é também o meu primeiro livro com prefácio, que é feito pelo Pedro Abrunhosa. O Pedro é, para mim, uma referência estética, além de ser ele mesmo uma figura grande da cultura contemporânea quer ao nível estritamente poético quer ao nível da música onde é o topo. Por isso este prefácio é uma honra e um privilégio e o seu olhar sobre esta minha obra responsabiliza-me fortemente para tudo o que eu possa escrever no futuro.

2-Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R- Sendo um livro de poesia não há propriamente uma ideia de base na sua origem, no entanto, a linha condutora deste livro é o de poemas como uma luz, vertical e fria, rasgando a bruma do Outono, esse tipo de luz a prumo é muito própria dos dias outonais aqui no Porto, onde a bruma é lugar-comum sobre a cidade. Gostava que o lessem num dia frio a ver o sol a despontar entre os galhos despidos das árvores, esperando que o fogo, o elemento predominante nestes poemas, lhes aqueça as almas ora inquietando, ora pacificando.

3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Poemas. Como já disse aqui à “Novos Livros” numa outra entrevista, vou sempre escrevendo e quando me parece ter esgotado todas as fórmulas de linguagem entro em “pousio”, paro, colijo o que tenho e tento encontrar uma linha estética que una os poemas uns aos outros, nessa altura julgo ter algo digno de publicação. No momento presente estou em fase de escrita. Considero a poesia uma arte próxima da arqueologia, parto de picareta em punho escavando, escavando até encontrar na poeira o Poema, outras vezes a busca do poema afigura-se como uma escultura e do bloco de mármore informe o escopro vai sulcando a pedra até ao Poema.
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Alexandra Malheiro
Luz Vertical
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