Albano Mendes de Matos | A Casa Grande

1- O que representa, no contexto da sua obra, o livro “A Casa Grande”?
R- Com uma pequeníssima obra publicada, em forma de livro (um caderno de Contos Africanos, um pequeno livro de temática antropológica, dois pequenos livros de poesia, uma Monografia de uma aldeia (dissertação de Mestrado), em separata de revista, colaboração em diversos obras colectivas e trabalhos dispersos por jornais e revistas, o livro “A Casa Grande” representa, para mim, um grande estímulo para a continuação de uma actividade que sempre esteve nas minhas preocupações culturais, com predominância para documentos antropológicos. Foi muito gratificante ver esta obra nos escaparates das livrarias.

2- Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R-O escritor é um criador. Tudo o que escreve deve estar dentro dele. Tudo emerge do que tem armazenado ou que inventa e o valor da obra que cria ou produz depende da sua cultura e das suas experiências de vida.Na minha infância, ouvi o meu avô materno e o meu pai contarem histórias dos tempos idos, que já tinham escutado aos seus antepassados, aos serões, em volta da lareira, nas longas noites de Inverno. Com lápis de tinta violeta, fixei algumas dessas histórias em papel pardo em que os merceeiros embrulhavam os produtos. Papéis que, nas rodas do tempo, desapareceram. Mas, na memória, permaneceram algumas histórias. Na década de oitenta do século passado, em pesquisa no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, encontrei originais que confirmavam algumas das histórias que ouvira. Este facto despertou-me para a escrita, embora isso sempre tivesse na mente. Assim, em poucos dias, dedilhei, no teclado do computador, o original de “A Casa Grande”, imbricando episódios memorizados desde a infância com episódios ficcionados, de modo a dar forma e sentido a uma obra que reflectisse algumas realidades da ruralidade de um lugar da serra da Gardunha, no século XIX, como “testemunho de uma época”, no dizer de José Cardoso Pires.

3- Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Não tenho muito tempo para pensar no futuro. O futuro pode ser já amanhã. Só escrevo ficção quando sinto essa necessidade, que pode andar arredia por longos tempos. Uma preocupação quase diária, são escritos e reescritos sobre temas da Cultura Tradicional Popular, como Literatura, Tecnologias, Etnografia e Religiosidade, especialmente na região da serra da Gardunha.Depois de terminar o livro “A Casa Grande”, comecei a escrever, com algumas pausas, uma obra de ficção, ainda sem título, cuja acção se desenvolve numa aldeia da Beira Baixa, na primeira metade do século passado.Tenho prontos para publicação dois livros de contos (um de temática angolana), um livro sobre a Guerra Colonial, um livro de poesia, meia dúzia de pequenos livros de temas antropológicos e etnográficos e a referida Monografia, revista e aumentada.
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Albano Mendes de Matos
A Casa Grande
Sopa de Letras, 10€

(Prémio Aquilino Ribeiro/2008)