Afonso Cruz: Paz Traz Paz
CRÓNICA
| Rui Miguel Rocha
Acabo “Paz Traz Paz” do Afonso Cruz na Companhia das Letras. E a verdade é que a verdade está lá, na criança que deixamos de ser, no bem que é contagioso e no mal que é transmissível, no problema da humanidade. Como aquele título de crónica do António Lobo Antunes “Quando se é novo para toda a vida”.
Sobre as pedras que parecem pessoas e vice-versa, sobre o colossal erro de “não…comer gelados no inverno”, “uma construção tão sólida como/um dia de praia”, para “descobrir a parte de dentro das coisas”, os sorrisos verdadeiros e as facadas nas costas, porque “as pedras mais zangadas/constroem muros.”
Mas ainda mais importante é nunca esquecer as ervilhas, a dança (como o Herberto), as gotas que se juntam e os grãos que se separam mas são uma praia, “combater a noite com canteiros” e, acima de tudo, fazer acontecer a infância nos adultos e aprender a dizer não desde pequenino.
Para finalizar “não sucumbir à normalidade” tão sumptuoso!, as notas finais à Borges, as “pintinhas às risquinhas” das zebras e as “pintinhas às bolinhas” das girafas.
Porque no fim de contas “enquanto os pássaros batem as asas para voar,/nós batemos o coração.”
Impossível não gostar.
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Afonso Cruz
Paz Traz Paz
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