Abbas Kiorastami: Uma colheita preciosa

CRÓNICA
| agostinho sousa

Estas Flores Silvestres, numa escolha e tradução de bernardo sá (como é apresentado no livro), trata-se de um conjunto de aproximadamente 60 poemas, intercalados com algumas fotografias e desenhos deste realizador iraniano.Apesar da aparente singeleza de cada um deles, de dois a cinco versos, quais haikus contemporâneos, os mesmos possibilitam, numa leitura mais atenta, encontrar (ou recriar) caminhos alternativos aos aparentemente traçados pelo autor, enriquecendo, pela descoberta e invenção (do leitor), a leitura poética.
Esta colheita preciosa é apresentada num formato e encadernação de um livro que segue o espírito do seu conteúdo – livro de bolso com lombada exterior cozida a linha.
«Li-o de um trago» como refere Virginia Woolf, no seu Diário, em 20/04/1935, a propósito de um livro que leu com tanta avidez «muito rapidamente, nem tive tempo para refletir, vou dar-me tempo para refletir? Relê-lo?».
Sim, dei-lhe tempo para regressar a outras releituras após esse voraz trago e tais degustações, tão espaçadas quanto aleatórias, por vezes ao acaso na abertura de uma página qualquer, que me têm proporcionado imenso prazer.
Curiosamente, a ausência de pontuação de cada poema estimulou a leitura em voz alta de alguns, permitindo inventar outras cadências nos versos do poeta.
Para evitar qualquer palavra ou repetição que melindre a síntese deste objeto, apenas acrescentarei, aos merecidos parabéns à editora por esta edição, a transcrição de uma dessas flores que, sendo silvestres terão espinhos que nos obrigam a colhê-las com mais cuidado, carinho e profundo respeito:

Como
posso dormir em paz
se o tempo não pára nem um segundo
mesmo durante o sono?

Espinho, 17/12/2023
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Abbas Kiorastami
Flores Silvestres (Poemas Escolhidos)
Flanêur  7,50€

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