A. M. Pires Cabral: “Paradoxo que só a poesia consente”
1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro “Na Morte de Erato”?
R-Já lhe ouvi chamar testamento poético, no sentido de peça derradeira duma longa carreira poética. Mas eu não lhe chamo isso, que me parece agoirento, fúnebre demais. E, além disso, ando às turras com dois ou três livros de poesia que gostaria de publicar enquanto por cá ando. Já vê que não é testamento coisa nenhuma. Prefiro considerar que se trata de um divertissement, mas um divertissement para ser levado a sério – paradoxo que só a poesia consente. Definido com mais certeza e clareza: é o registo ficcionado e irónico duma mancebia do poeta com a poesia, com os altos e baixos que estes relacionamentos contra-natura implicam.
2-Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
R-Procurar chegar, pelo método de tentativa e erro, a uma definição convincente de poesia, coisa que tenho tentado com afinco ao longo da vida. Escusado será dizer, claro está, que se trata de mais uma tentativa falhada.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Muita coisa. Neste momento, estou a afinar um dos livros de poesia que trago entre mãos. Mas não sou nem nunca fui escritor para uma dedicação exclusiva. Paralelamente com isso, ando a dar os últimos retoques a um romance irónico quanto baste e mais meia dúzia de coisas mais miúdas. Uma mini-arca de Pessoa, não acha? Os livros de poesia e o romance não gostaria de os deixar inéditos, O resto – que tenha a sorte, boa ou má, que merece.
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A. M. Pires Cabral
Na Morte de Erato
Tinta-da-China 15,90€
A. M. Pires Cabral na “Novos Livros” | Entrevistas