A impermanência talvez seja a palavra base
1-«Atravessando o Areal» é o seu primeiro romance: como espera poder olhar para ele daqui a 20 anos?
R-“Atravessando o areal”, é o meu primeiro romance “oficialmente” editado. Anteriormente escrevi alguns outros (talvez uma dezena), antes de ter sentido que encontrava “forma” ou voz literária, que ao ler ao fim de um tempo de afastamento, me trouxesse a ideia de que era mais ou menos aquele o caminho. Ou seja que ao reler não me fizesse querer guardá-lo nalguma gaveta e me desse vontade de alterar a forma ou a maneira de escrever. Não tenho ilusões quanto à insatisfação intrínseca que me leva a procurar que essa voz me flua cada vez mais naturalmente. Este livro marcou sem dúvida um momento em que o meu estilo de escrita mudou, deixando outras formas mais tradicionais, para as quais olho com carinho, como pegadas necessárias num sentido o qual não antevejo o final, nem direcção a médio prazo, mas que sinto como certo.
2-Qual a ideia que esteve na base desta obra?
R-Normalmente, começo com pouca coisa, quase como de um ponto de vista que lentamente vai-se construíndo, tenho um traçado base, necessito de um cenário inicial, neste caso um quarto de hotel como lugar de isolamento, e necessito também de, como um actor, ou actriz, encarnar um personagem numa espécie de teatro de improviso, que vai alimentando também a própria narrativa. Neste caso a base começa num cenário de abandono com a personagem principal e depois mais tarde, com outros narradores/personagens, completa-se em torno do fulcro da história, que foi a carta que se moveu e que fez tombar o castelo de cartas a que todos pertenciam. A impermanencia talvez seja a palavra base. Sendo a vida a continuidade de uma “travessia”.
3-Pensando no futuro, o que está a escrever neste momento?
R-Após este romance, escrevi outros dois, que aguardam caminho editorial, entretanto vou-me entretendo com pequenos textos (considerando que serão lidos ao ritmo e avidez de cibernautas nas plataformas digitais), que uso como exercício em https://paraquemvaicompressa.wordpress.com, no Instagram e facebook simultaneamente. Tenho em esboço algumas ideias do que poderá ser um próximo romance, mas ainda não senti que o livro “quisesse começar”. Costuma acontecer sentir que um livro principia, como se o processo não fosse premeditado.
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Pedro Leónidas
Atravessando o Areal
Rosa de Porcelana 15€