“A felicidade organizacional é uma ferramenta de gestão estratégica”

1-Qual a ideia que esteve na origem deste vosso livro «Felicidade Organizacional-Organizações Felizes São Mais Sustentáveis»?
R-O livro tem como base o projecto de investigação Happiness Works, que iniciámos em 2011, e tem como objectivo entender e medir a Felicidade Organizacional. Desde o seu início já participaram 47.000 profissionais de 400 organizações e foram publicados 48 artigos académicos / teses sobre este tema, em Portugal e estrangeiro. O Happiness Works junta o conhecimento académico com a prática organizacional, proporcionando, desta forma, um conhecimento único sobre a Felicidade Organizacional em Portugal. O novo conhecimento só tem valia se for partilhado. De outra forma, fica apenas acessível a algumas pessoas e organizações e não cria, real valor, para a sociedade. Por esta razão, considerámos que seria relevante partilhar o muito conhecimento adquirido, através de um livro acessível a todos e que disponibilizasse a visão dos académicos, gestores e casos de empresa. Esta é a razão do livro. Esperamos que possa contribuir para um melhor bem-estar das organizações e dos seus profissionais. Pois, Colaboradores mais felizes faltam menos 56% e têm menos 43% vontade de sair da organização (Happiness Works, 2022). Logo, são organizações mais sustentáveis.

2-Como podemos caracterizar a situação da felicidade organizacional nas organizações portuguesas?
R-Desde 2012 que avaliamos o nível de felicidade organizacional em Portugal através do projeto Happiness Works, no qual já participaram 47.000 profissionais de 400organizações. Em 2022, o nível de felicidade organizacional foi de 3,9 (numa escala de 1. muito infeliz a 5. muito feliz), superior ao valor de 3,5 registado em 2012, o primeiro ano de avaliação. Este crescimento deveu-se, principalmente, a uma alteração por parte das organizações sobre o entendimento do que é felicidade organizacional, não apenas um somatório de momentos que proporcionam bem-estar aos colaboradores, mas sim, algo mais estratégico, uma cultura. Hoje, existem modelos que permitem medir o nível de felicidade numa organização e monetizar o seu impacto na rentabilidade. Existem métricas, validadas através da ciência, que permitem utilizar a felicidade organizacional como um instrumento de gestão e validar o seu impacto nos resultados. Fundamental para quem gere! A evolução do entendimento da felicidade organizacional como algo estratégico teve um impacto positivo no nível de felicidade dos colaboradores. Esta evolução deveu-se a alguns factos relevantes, entre outros:

  • O trabalho remoto, forçado inicialmente pela pandemia do Covid 19. Contribui para uma maior conciliação entre trabalho / família / vida social, aumentado o bem-estar de quem trabalha. Hoje é fácil, e cada vez mais comum, trabalhar remotamente para uma organização em qualquer lugar do mundo. A competição por talento é maior, mais global e não é fácil para as empresas portuguesas competirem com os salários pagos por empresas sediadas em países mais ricos. Disponibilizar condições que permitam aos colaboradores serem felizes no trabalho é uma forma de os reter, muitas vezes com um salário menos competitivo;
  • As gerações mais jovens. Quando comecei a trabalhar (tenho 60 anos) a visão era muito clara, se tiver uma boa carreira profissional terei uma boa vida. Hoje, as gerações mais jovens pensam, muito sensatamente, de forma diferente. Tenho de ter uma boa (feliz) vida. Para tal é necessário, naturalmente, trabalhar. No entanto, o trabalho é apenas uma das variáveis da minha vida, que deve contribuir para um todo. Não faz sentido abdicar da família, amigos, …, para me dedicar 100% a uma empresa. Esta geração espera ter condições de trabalho (cultura) que os ajude a ter uma vida feliz.

Conhecendo a forma de estar das gerações mais jovens e as novas realidades no mercado de trabalho, no estudo que realizámos em 2022 adicionámos a seguinte pergunta: O que gostaria de obter da sua empresa para ser mais feliz como profissional? Através da análise às 1.600 respostas obtidas foram identificados alguns conceitos inovadores e houve um que se destacou: Gostava que a empresa me ajudasse a disfrutar da vida. Este novo conceito, esperar que a empresa nos ajude a disfrutar a vida, é disruptivo e fascinante. Obriga as organizações a pensarem de forma totalmente diferente a gestão das pessoas, a saber como integrar o trabalho no todo da pessoa e a encontrar formas alternativas de reter os seus colaboradores. Ou seja, a contribuir para uma vida mais feliz.

3-Com os permanentes e fortes desafios que as organizações têm de encarar, num ambiente de constante mudança, parece não haver espaço para reflectir e agir sobre como tornar a organização feliz ou mais feliz: é mesmo uma questão de sustentabilidade futura?
R-Como antes referido, nas organizações mais felizes os profissionais faltam menos, a rotação é menor e a perceção de produtividade maior. Fatores que têm um impacto direto na sustentabilidade de uma organização. No primeiro ano em que realizámos o estudo em Portugal, obtivemos 1.200 respostas. Em 2023 recebemos 7.000. Este crescimento reflete a importância atual do tema e como as organizações o consideram prioritário. Hoje, a luta por talento é maior e os jovens profissionais podem escolher onde preferem trabalhar, em Portugal, ou qualquer outro local no mundo. Procuram organizações onde melhor possam viver a sua vida como um todo, não apenas serem bem remunerados. Esta realidade torna mais difícil recrutar profissionais e mantê-los na organização. Quando iniciámos, em 2011, o estudo da felicidade organizacional, sabíamos bem como começar, mas não fazíamos ideia da sua importância para organizações. Ao fim destes 12 anos de investigação podemos afirmar, com evidências, que a felicidade organizacional é uma ferramenta de gestão estratégica, pode ser medida, é monetizável e tem impacto na rentabilidade. Ou seja, que organizações mais felizes são mais sustentáveis!
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Álvaro Lopes Dias/Georg Dutschke
Felicidade Organizacional. Organizações Felizes São Mais Sustentáveis (Modelos, Métricas, Casos)
RH Editora: 49,50€

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