Viajar com David Attenborough

CRÓNICA
| Rui Miguel Rocha

Cá está o segundo da série que espero longa, o explorador naturalista que desta vez vai a Papua Nova Guiné, Ilhas Vanuatu, Madagáscar e Austrália explorando espécies animais mas também os cultos e modos de vida dos povos locais.
Em Papua em busca das aves-do-paraíso, esquivas ou mortas pela população local no vale Wahgi na maior ilha não continental do mundo. “Mais de quinhentos bailarinos emplumados. Entre todos, deveriam ter matado pelo menos dez mil aves-do-paraíso para se adornarem para aquela cerimónia.” Ainda em Papua o fabrico dos machados de pedra, mas nunca com a nossa pressa: “uma dedicação tão ridícula e persistente a uma tarefa era um hábito sobretudo ocidental; aquelas pessoas só trabalhavam quando tinham vontade.” Os pigmeus, canibais? “Um homem usava um repugnante colar de dedos humanos mumificados.” E os Tumbungi a “furar os narizes dos rapazes com dentes de morcegos.”
Depois o regresso ao paraíso, às Ilhas Vanuatu. Numa delas, Pentecostes, os homens saltam de torres, mergulham no vazio com trepadeiras amarradas aos pés, uma espécie de bungee jumping ancestral com uma origem histórica improvável e adúltera.
Todo o capítulo do Culto da Carga é imperdível , a forma de se fazer Kava com raízes previamente mastigadas.
Depois as Ilhas Fiji e o mistério das batalhas de caranguejos gigantes e do lago que dá peixes à tona. Neste último a tribo entrava no lago só quando o sacerdote permitia e ao caminharem pelo fundo cheio de matéria vegetal e lodo que, ao dissolverem-se formavam ácido sulfídrico que obrigava os peixes a vir à tona.
Mas também histórias de tartarugas centenárias como Tui Malilo com 183 anos; nomes de aldeias impronunciáveis em Madagáscar que não se pronunciavam como se escreviam; os sifakas, espécie de lémure que espera o nascer do sol de braços abertos no topo das árvores mais altas; as histórias de Marco Polo; o desenterramento dos mortos para os honrar; os camaleões que variam a cor da pele com as suas emoções e a intensidade da luz; tanta variedade animal e humana tão bem descrita.
E depois, por fim, a Austrália, com a explicação das miragens e todo o capítulo excepcional dos eremitas de Borroloola, homens que fugiram do mundo para se unirem ao mundo.
Fico à espera de mais.
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David Attenborough
Viagens ao Outro Lado do Mundo
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