Rita Lee nas suas próprias palavras
CRÓNICA
| Rui Miguel Rocha
E começa logo bem com o prefácio. O Rui, se não fosse o preguiçoso que imagino que é, daria um óptimo escritor: “prefácio em forma de prepúcio redundante e sem pós. Faço-o… “
E depois a Rita, a Rita Lee, que esteve sempre no imaginário da minha infância e adolescência, tinha os LPs, agora vinis, gostava das músicas e gostava das capas, e das letras que apelavam ao crescente erotismo e às mulheres com espírito aberto que estariam à minha espera e que nunca conheci nem encontrei.
A roqueira do cabelo vermelho com repa (no norte diz-se marrafa) e as roupas que mal tocavam o corpo, acariciando-o.
E o livro sem ter medo de dizer tudo, até o politicamente incorrecto. Faz lembrar o Keith (Richards).
Ascendência italiana e norte-americana, a “branquela caipira” de São Paulo cresceu numa família cheia de amor, artista “bipolar com um pé no trifásico”, acusada aos seis anos de “stage fright” por ter feito “xixi no banquinho” do piano. Quem diria!
Colecionadora de canhotos mas também de “filadaputz”, o amor pelos animais, as músicas, a loucura da droga e do álcool e dos rehab, fazendo “das trips coração” no tempo dos “LSDays”. “Uma jornalista me perguntou se eu havia tido uma overdose. Eu tomei Lexotan, uísque e chá de trombeta de anjo, mas o que me ferrou mesmo foi um bolo que comi.”
Da fundação do Tropicalismo a como aldrabar uma alfândega, ajudar a derrubar o Muro de Berlim ou lamber a maçaneta que Lennon tocou.
A prisão quando estava grávida e de como Elis a ajudou, a luta contra a censura e a ditadura, as dúvidas eternas sobre o seu enorme talento – são assim os grandes.
Sampa do Caetano: “Alguma coisa acontece no meu coração”: sempre que a ouço. “Ainda não havia para mim Rita Lee/A tua mais completa tradução”, para mim sempre houve.
E algumas frases entre tantas coisas boas:
“Hoje, para um artista se dar bem, ele tem de vender a alma”; “Nunca se é velho o suficiente para se cometer cagadas”; “Tománocu, Gisele!” (em directo na rádio quando soube que Gisele Bündchen vestiu casacos de pele de foca).
E para terminar “o pior inimigo da criatividade é o bom senso.”
Nem mais.
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Rita Lee (Prefácio de Rui Reininho)
Uma Autobiografia
Contraponto 17,70€