André Tecedeiro: o livro limpo

Crónica
| Rui Miguel Rocha

Apanhei versos pelo caminho e li o livro limpo. Desculpa, André pela construção abusiva.

“Hei-de chegar conduzido pelo erro,
Quanto mais urgente é a escrita
Mais humilde o suporte.
Para que as coisas resultem,
a nossa escuridão tem de ficar
bem clara.
O amor pelo ínfimo nunca me deixou ficar mal.
Devia haver uma biblioteca só de notas à margem.
O sentido da vida
é continuar.
Como se mede uma raiz?
O amor já foi uma pinça de aço frio.
As palavras estão todas do lado de dentro.
Há coisas que me transcendem,
mas estão todas dentro de mim.
Fixa um ponto na parede e foge para lá
ou fecha os olhos e foge para dentro.
Eles nunca olham para cima.
Lavo as minhas mãos no fogo.
Choro pelas pessoas árvore
em vasos pequenos demais.
Tudo o que guardamos nos livros
vira tesouro como quem vira uma página.”

Obrigado, André.

Muito bom.

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André Tecedeiro
A Axila de Egon Schiele (Poesia Reunida 2014-2020)
Porto Editora  15,50€

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